Olá, sou a Alexandra, sejam muito bem-vindos!
A minha convidada de hoje acredita na Alquimia das histórias, no poder e na transcendência que os objetos adquirem quando são associados a memórias, pessoas e lugares, apresento-vos a design de joias Maria Leão.
“Na Leão Jewellery, o propósito é tornar o indizível palpável, personificar momentos e conquistas na forma de algo duradouro e eterno, que passará de geração em geração.“
Olá, Maria!
Muito obrigada por teres aceitado o meu convite.
O nome Leão Jewellery é um nome sólido na joalharia de autor com a sua presença no mercado à 10 anos. Como se desenrola o teu processo criativo e como o alimentas para te destacares no mercado?
O meu processo criativo é profundamente intuitivo, mas sustentado por uma base sólida de conhecimento artístico e multidisciplinar. Tive a sorte de estudar na Soares dos Reis, uma escola artística excecional no Porto, onde aprendi metodologias que ainda hoje guiam o meu trabalho. Um dos princípios que preservo é o da pesquisa exploratória sem amarras — permito-me investigar livremente, cruzando referências de diferentes áreas: da arte à botânica, da engenharia às ciências, procurando sempre pontos de
partida que me ajudem a responder de forma autêntica ao pedido de cada cliente.
Crio a partir de uma escuta atenta: o que está a ser celebrado? Que emoção se quer cristalizar numa joia? Que história se deseja contar — ou sentir — ao usá-la? Este cruzamento entre emoção, simbologia e método é o que dá forma às minhas peças. E, ao longo do processo, procuro manter uma linha orientadora clara — aquilo que é essencial para a pessoa que me procura, sem nunca desviar do que torna cada criação verdadeiramente única.
Sendo um trabalho personalizado e com muitas variantes, o que é necessário contar-te num primeiro contacto?
Num primeiro contacto, gosto de perceber o essencial: que tipo de joia procuram — seja um anel de noivado, um par de brincos, uma peça para celebrar o nascimento de um filho — e que significado está por detrás desse desejo. Muitas vezes o cliente sabe que quer celebrar um momento especial, mas não tem ainda uma ideia concreta da peça. Aí, cabe-me escutar, propor, e
ajudar a encontrar a joia certa para aquele propósito.
Outro ponto essencial é perceber o equilíbrio entre o orçamento disponível e a qualidade dos materiais e do design. Muitas vezes os meus clientes valorizam sobretudo a exclusividade e o simbolismo da peça, e não tanto o peso do ouro ou o valor comercial da pedra. Isso permite-me sugerir soluções criativas, como peças em prata com o mesmo rigor técnico e qualidade estética das peças em ouro.
Também tento compreender o estilo que procuram — ainda que nem sempre o saibam verbalizar. Por isso recorro a imagens, descrições, referências visuais…é uma espécie de tradução sensível até chegarmos ao universo estético que faz sentido para quem me procura.
E claro, preciso sempre de saber para quando querem a peça — porque a joalharia de autor exige tempo, atenção e dedicação. Respeitar o tempo do processo é respeitar a história que estamos a contar.

Como defines o teu cliente ideal?
O meu cliente ideal valoriza a joalharia como um meio de expressão e celebração. Não procura apenas um objeto belo — procura significado. É alguém que percebe que uma peça pode guardar uma memória, um gesto, uma emoção. Que valoriza o design, a exclusividade, a qualidade da execução — mas acima de tudo, aquilo que a peça representa. É alguém que confia no processo criativo, que se deixa guiar e envolver. Que percebe o valor da singularidade e da intuição — e que escolhe uma joia não apenas com os olhos, mas também com o coração.
Existe alguma red flag que te faça colocar de lado a possibilidade de aceitar um pedido?
Sim, há dois sinais de alerta que me fazem ponderar recusar um projeto. O primeiro é quando o cliente não me dá espaço para criar — quando chega com referências muito fechadas e me pede, essencialmente, para replicar o design de outra peça. Isso vai contra tudo aquilo em que acredito: a joalharia deve ser pessoal, única, feita à medida da história de cada um. Se não há espaço para interpretar, para sonhar e propor algo novo, o projeto perde a sua alma.
O segundo é quando me pedem tudo “para ontem” e tentam controlar todos os detalhes do processo. A joalharia exclusiva exige tempo e confiança mútua. Eu comprometo-me a escutar com atenção, a propor com autenticidade e a executar com rigor. Mas esse compromisso só é possível quando há respeito pelos tempos do processo e confiança no meu trabalho.

Um trabalho feito à medida implica todo um processo do desenho à realização, dependendo sempre da sua complexidade. Em média, com quanto tempo de antecedência deve ser feita uma encomenda?
Idealmente, uma encomenda personalizada deve ser feita com três a quatro meses de antecedência. Dois meses é o mínimo que recomendo para garantir que há tempo suficiente para conceber, desenvolver e produzir a peça com o cuidado e dedicação que ela merece. No entanto, o tempo necessário pode variar bastante consoante a complexidade do design ou a necessidade de
materiais específicos, alguns dos quais posso ter de encomendar fora de
Portugal.
É importante também considerar períodos críticos — o mês de agosto, por exemplo, é particularmente desafiante, já que grande parte dos meus fornecedores e parceiros da indústria da ourivesaria entra em pausa. Para casamentos em agosto ou setembro, as joias devem estar prontas, idealmente, no final de julho.
Dito isto, estou sempre disponível para avaliar caso a caso. Se houver uma janela possível na minha agenda ou se o projeto for mais simples de executar, posso tentar encaixar. Por isso, mesmo que o prazo pareça apertado, vale sempre a pena enviar mensagem e perguntar.
Com que matérias-primas trabalhas e quais são as tuas preferidas?
Trabalho essencialmente com ouro (normalmente ouro de 19,2 quilates) e prata, complementados com pedras naturais e de laboratório, e pérolas. Apesar de apreciar a versatilidade de todos estes materiais, o ouro — tanto o amarelo como o branco — é a minha matéria-prima de eleição.
O ouro oferece uma resistência e durabilidade superiores, fundamentais quando estamos a criar peças com sistemas mais complexos, como fechos, pendentes ou pulseiras articuladas. Ao contrário da prata, que sendo mais maleável pode perder firmeza com o uso, o ouro garante que a peça mantém a sua integridade ao longo do tempo. Por isso, sempre que posso, escolho o ouro — não só pela sua beleza, mas também pelas suas propriedades técnicas.
Trabalhar com Noivos é trabalhar com a felicidade e a alegria, mas também com expectativas e ansiedades. Qual é a decisão ou a opção com mais repercussões negativas na hora de encomendar uma joia?
Acredito que muitas noivas investem bastante tempo e atenção na escolha do vestido — e bem, porque ele tem um papel central — mas por vezes desvalorizam a escolha das joias. E no entanto, a joia é, muito provavelmente, o único elemento do casamento que vai acompanhar a noiva para sempre. É algo que pode ser usado em ocasiões futuras, que pode ser passado a filhos ou netos… é uma cápsula de memória que permanece.
Por isso, o meu conselho é que se dê a devida importância às joias do grande dia. Que se escolha algo feito com intenção e qualidade, de preferência personalizado, para garantir que a peça tem significado, conforto e versatilidade. É por isso que nas minhas criações penso sempre além do dia do casamento: proponho peças modulares, adaptáveis, que podem ser usadas de diferentes formas e em diferentes contextos. Acredito que uma boa joia é aquela que continua a fazer sentido depois da festa, no quotidiano ou em momentos especiais.

A terminar, peço-te um bom conselho para quem procuram o caminho mais tranquilo na escolha da joia perfeita.
Para um processo mais sereno e feliz, recomendo sempre marcar uma primeira reunião comigo — sem compromisso. Nessa fase inicial, ofereço um serviço de consultoria em que procuro conhecer o estilo da noiva, o vestido, o penteado e o ambiente do casamento, e a partir daí proponho peças que se encaixem nesse imaginário. Apresento um Moodboard visual e orçamento, com diferentes materiais, para que a escolha final seja feita com clareza e confiança.
Outro conselho essencial é estarem muito atentas às compras online. Por vezes, ao encomendar peças pela internet, pode parecer que se está a adquirir algo em prata ou ouro, quando na verdade são ligas metálicas de baixa qualidade, muitas vezes apenas banhadas a ouro. É importante ler atentamente a descrição dos materiais, procurar reviews de outros clientes, e verificar se a marca tem um serviço de apoio ao cliente acessível — especialmente em caso de trocas ou ajustes.
Já me chegaram clientes com situações complicadas, como brincos cujo espeque estava mal colocado e os fazia cair inesteticamente da orelha, ou toucados que causavam desconforto na cabeça, sem possibilidade de devolução porque a marca estava sediada fora da Europa e sem estrutura de apoio local. Nessas situações, por vezes, é mais sensato criar uma nova peça de raiz do que tentar ajustar algo mal concebido.
Por isso, se possível, escolham uma marca de proximidade, com quem possam falar, partilhar dúvidas e até experimentar as peças. O caminho até à joia perfeita deve ser vivido com calma, beleza e confiança — e começa sempre por uma boa escolha de quem a vai criar.
Despeço-me, agradecendo o precioso tempo disponibilizado para a nossa breve conversa, as palavras dirigidas aos noivos e por partilhares connosco as tuas criações incríveis.
Até para ao próximo artigo!
LEÃO JEWELLERY, um artigo publicado originalmente em A Pajarita & Friends
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